Hoje é aniversário de um grande brasileiro reverenciado no resto do mundo e esquecido aqui – para variar, né? Não foi jogador de futebol, artista, cantor, vencedor do BBB…
No dia de hoje em 1879, nasce Carlos Justiniano Ribeiro Chagas, o Médico Sanitarista Dr. Carlos Chagas.
Iniciou a carreira combatendo a Malária. Como pesquisador descobriu que o protozoário Trypanosoma cruzi, que batizou com o nome de outro genial médico, seu amigo Oswaldo Cruz, era o causador da debilitante doença que ganhou seu nome, o “Mal de Chagas” ou tripanossomíase americana.
Não sei se é fato, mas segundo os escritos de consulta, permanece, até os dias de hoje, como o único médico no mundo que descreveu completamente uma doença infecciosa, do patógeno, ao vetor, passando pelos os hospedeiros, suas manifestações clínicas e a epidemiologia. Para mim seria um feito digno do Nobel.
Se dependesse da mãe seria engenheiro, mas não foi aprovado nos exame admissionais. Consegue vencer a resistência materna que, ironicamente, não via grande futuro na medicina e vai para o Rio de Janeiro estudar. Chegou bem a tempo de participar da revolução causada por Pasteur e seu uso sistemático do microscópio na busca das causas das doenças.
Quando se formou foi trabalhar sob orientação do grande Oswaldo Cruz (de quem virou amigo e braço direito) e se envolveu em diversas pesquisas.
Seu momento de glória foi na epidemia de Gripe Espanhola que assolou o mundo em 1917/18, atingindo 2/3 da população mundial e incontáveis vítimas. No Rio, a doença chegou em algum momento de 1918 e logo já se contavam mais de 600 mil habitantes doentes.
Graças à estratégia de combate à doença imposta por Chagas, o país não foi tão duramente atingido quanto o resto do mundo (estima-se cerca de 11 mil vítimas, incluindo o Presidente da República da época, Rodrigues Alves).
Chagas e a família também ficaram doentes, mas o tratamento imposto por ele erradicou a Gripe do Rio em novembro de 1918, enquanto ainda se morria aos magotes em outras partes do mundo.
Recebeu inúmeras homenagens e diplomas por todo o mundo, de Harvard ao Instituto Pasteur e universidades Alemãs. Recebeu os títulos de Cavaleiro da Ordem da Coroa da Itália, de Comendador da Coroa da Bélgica e de Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra da França, o Grau de Oficial da Ordem de São Thiago, de Portugal, de Comendador da Ordem de Afonso XII, Espanha, de Comendador da Ordem de Isabel, a Católica da Espanha e de Cavaleiro da Ordem da Coroa da Romênia.
Foi duas vezes indicado para o Nobel de Medicina em 1913 e 1921, mas teve a indicação sabotada pelos colegas brasileiros que questionavam publicamente a existência do “Mal de Chagas”.
A inveja tirou de um grande homem e do Brasil o único Nobel que merecemos de fato até hoje.
Belmiro Deusdete, radialista, jornalista e bancário.