Ednaldo Soares
A data da inauguração da cidade do Salvador é uma incógnita, apesar de Theodoro Sampaio considerar 13/06/1549. Inquestionável, no entanto, é a data da chegada de Tomé de Souza (29/03/1549), enviado de D. João III com “a tarefa de: colonizar, povoar, disciplinar e arrecadar”. Para tanto, teve de erguer uma povoação para ser a sede do Governo-Geral. Todavia, diante da incerteza da data de fundação da cidade, historiadores decidiram adotar a mesma da chegada do primeiro governador.
Para celebrar os 473 anos da cidade, relembram-se alguns fatos a seu respeito; uns bem conhecidos; outros, nem tanto:
- a cidade foi erguida em um trecho de terra na entrada da baía, “uma espécie de esplanada no cimo do monte, […] a cavalheiro sobre o porto; encosta em alcantil por esse lado; fosso profundo, […] do lado de terra onde corre um ribeiro de boa água e, nas extremidades, norte e sul, depressões […] que mais facilmente se vedam”;
- a zona urbana da cidade recém edificada ficava “entre o atual começo da rua da Misericórdia e a Praça Castro Alves, onde está o [antigo] Palácio dos Esportes”;
- Salvador era comumente chamada de Cidade da Bahia ou simplesmente Bahia. Daí, a indagação musicada “Você já foi Bahia, nega? Não? Então, vá” refere-se à cidade do Salvador e não ao Estado da Bahia;
- nos séculos XVI e XVII, Salvador era uma das cidades e um dos portos mais importantes das Américas;
- Salvador foi a cidade que teve: (1) a primeira linha de bondes puxados por burros (1865) e navegação a vapor, na América Latina; (2) o ascensor mail alto do mundo – o Elevador Lacerda, mais alto que o similar em Londres; e (3) um dos primeiros teatros do país – o Theatro São João (1812);
- a Ladeira da Montanha, ligação entre a Cidade Baixa e a Cidade Alta, foi aberta em 1865;
- o aterro do bairro do Comércio iniciou em 1908; o antigo Mercado Modelo foi inaugurado em 1912 e substituiu o Mercado de Santa Bárbara (destruído durante as obras do aterro do bairro do Comércio);
- em 1900, o primeiro automóvel a circular na cidade pertencia a Henrique Lanat (atualmente, está exposto no Museu da Misericórdia);
- O trecho da Av. Sete de Setembro, entre a Praça Castro Alves e o Relógio de São Pedro era a Rua São Bento de Cima e a atual Rua Carlos Gomes era a Rua São Bento de Baixo;
- a criação da Av. Sete de Setembro (1915) foi parte do projeto de urbanização da cidade, na gestão de J. J. Seabra, inspirado na reurbanização do Rio de Janeiro, executada por Pereira Passos, que, por sua vez, se inspirou no Barão Hausmann – projetista e executor da reurbanização de Paris;
- no projeto de J. J. Seabra, a rua São Bento de Baixo daria lugar à Av. 2 de Julho, porém, faltaram verbas e foi apenas renomeada Rua Carlos Gomes, em homenagem ao compositor, cuja ópera o Guarani havia sido apresentada pela primeira vez no país, no Theatro São João. Demais, a sala de cinema que ainda existe na Praça Castro Alves, originalmente, recebeu o nome de Cine Guarani;
- para a criação da Av. Sete, houve muitas demolições de forma total ou parcial. As mais destacadas foram a Igreja de São Pedro (antiga), parte do edifício do Senado Estadual, no Largo da Forca (Praça da Piedade), parte da Igreja das Mercês etc. Por pouco, a Basílica de São Bento não foi derrubada;
- a Av. Jequitaia foi construída no 2º mandato de J.J. Seabra para ligar o bairro da Calçada ao do Comércio;
- Nota: a denominação “Rua Direita de…” era dada às ruas principais da cidade; correspondia à atual denominação “avenida”;
- o Senado Estadual mudou de nome; passou a ser Assembleia Legislativa do Estado. Uma de suas primeiras sedes ocupou um casarão localizado no Campo Grande, no lugar onde foi construído o edifício residencial “Palácio da Assembleia”. Ao lado deste, está o prédio “Britânia Mansion”, em homenagem à antiga “British Church” (igreja anglicana), cujo imóvel ficava no local;
- o monumento ao Caboclo, situado no Campo Grande, data de 1895;
- o primeiro monumento público de Salvador foi o obelisco que fica em frente do Palácio da Aclamação. Construído para perpetuar a visita do imperador à cidade, inicialmente, foi instalado no Passeio Público, atrás do palácio;
- além da primeira residência (Palácio Rio Branco), outras edificações serviram de morada aos governadores da Bahia: o Solar das Mercês (atual sede do SEBRAE); o Solar Cerqueira Lima, no Corredor da Vitória, que também sediou a Secretaria de Educação do Estado e, atualmente é ocupado pelo Museu de Arte da Bahia (MAB); e o Palacete Moraes, que depois de ampliado, tornou-se o Palácio da Aclamação;
- a extinta “Casa da Universitária” da UFBA, no Canela, anteriormente, foi residência de Ariano Machado;
- a antiga residência de Pacífico Pereira, no Campo Grande, também sediou o Clube Francês. Posteriormente, deu lugar à construção do Teatro Castro Alves, que incendiou dias antes da inauguração e teve de ser reconstruído;
- a Baixa dos Sapateiros (Rua J. J. Seabra) foi a primeira via de vale da cidade. Por baixo dela, canalizado, passa o “ribeiro de boas águas” retro citado;
- as balaustradas da Barra e da Paciência são obras do arquiteto Felinto Santoro;
- deve-se ao santamarense Arlindo Coelho Fragoso a fundação da Escola Politécnica. Funcionou na Av. Sete, no local onde, atualmente, está o Ed. Fundação Politécnica;
- antigamente, quem nascia na Bahia era “bahiense” ao invés de “baiano”.
CURIOSIDADE:
Em 1911, a Bahia teve um governador tampão – Aurélio Rodrigues Viana. Natural de Jequié, durante sua gestão, transferiu a capital do estado de Salvador para sua cidade natal.