No dia das mães o Portal da Cidade Guaxupé mostra a história da Cláudia, que celebra em 2022 o primeiro dia das Mães.
No domingopassado (08) a autônoma Cláudia Helena Cruz Costa celebrou seu primeiro dia das mães. Mas o caminho de Cláudia para se tornar mãe passou longe da gestação. Uma trajetória que começou em 2016, quando ela e o marido, o advogado João Marcos Alencar Barros Costa Monteiro, entraram na fila de adoção.
Depois de anos de espera, o casal conseguiu a guarda de Otávio, um adolescente de 15 anos, campeão de xadrez e que há nove anos estava na Casa da Criança, onde Cláudia conheceu o jovem.
“Todo o filho tem que ser adotado. Seja ele biológico ou do coração, senão não cria este vínculo”, ressalta Cláudia.
Assim como Otávio, 70% das crianças que estão em abrigos pelo Brasil aguardando por adoção têm mais de oito anos de idade, conforme dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Um perfil diferente do procurado pela maioria das famílias na fila de adoção, que é o de um bebê. No início do processo de adoção, esse também era o desejo de Cláudia
“Todo o casal que entra na fila de adoção, o sonho é um bebê. Porque você vai criar do seu jeito, conduzir da sua forma. Pelo menos é o que todo mundo espera. Mas tem muita gente com filho biológico que cuida bem e o filho vira traficante e N situações acontecem e você vai olhar a raiz daquela família e é uma família estruturada. No curso (para adoção) eles vão falando, mas o que querem mesmo é incentivar a adoção tardia, do que um bebê, e as crianças vão ficando lá, vão crescendo e na realidade não são adotadas. Durante o curso alguma coisa me incomodava e acredito que era Deus tentando trabalhar e eu ali endurecendo e o João Marcos estava receptivo à isso desde sempre e eu não, porque eu queria um bebê”, relembra Cláudia.
Para a psicóloga Carola Silva Ferreira Saborito, é possível moldar o comportamento de qualquer criança, independente da idade. ” No caso da adoção muitas famílias preferem bebês para ter essa questão de modelar o comportamento da criança. Mas o fato da criança ser adotada, ou não, não vai implicar nessa criação. Qualquer idade da criança a gente consegue trabalhar os comportamentos que são inadequados para que eles consigam entender os comportamentos adequados a serem emitidos. Isso em qualquer idade, independente de ser filho biológico ou adotado”, explica a psicóloga.
Construção da relação
Assim como relações de casal e de amizade, a relação entre pais e filhos também devem ser construídas.
“A relação materna pode ser construída com carinho, afeto, atenção. A forma como eu crio laços com o meu filho é forma como ele vai me dar esses laços também. Se eu sou uma mãe que bate, que grita muito, que ofende de alguma forma, meu filho vai aprender com este comportamento. E provavelmente ele vai emitir este comportamento, seja comigo, seja com o pai, com outras crianças e outros adultos. Se eu ensino essa criança a resolver os problemas de uma forma que não seja agredindo, xingando, eu construo laços muito mais fortes com essa criança. Esse vínculo materno ele é de acordo com o que eu estou recebendo e nada mais além disso. Então sim, há como se construir esse vínculo de uma maneira mais agradável”, ressalta a Carola.
E foi construindo laços que a relação de mãe e filho entre Cláudia e Otávio começou.
“Fui voluntária na Casa da Criança, porém era porque o (marido) João Marcos fazia parte da diretoria da Casa da Criança. Fazia isso de coração porque sabia que nenhuma das crianças que estavam na casa, estavam para adoção. Eu lembro que o despertar foi num evento da Casa da Criança lá no Olympia. O Otávio estava na porta da Casa todo alinhadinho e chamei ele para ir e ele disse ‘não posso, vai ter um campeonato de xadrez e o meu instrutor vai vir aqui e nós vamos treinar’. Aquilo mudou uma chave dentro de mim. E isso foi crescendo. o amor não da para explicar. É um sentimento que a gente sente”, relembra a mãe.
Finalmente no dia 16 de julho do ano passado, dia do aniversário de Cláudia, ela ganhou o maior presente. ” Meu celular tocou e era a assistente social da casa da criança e disse que tinha uma pessoa que queria conversar comigo e era o Otávio. Foi o maior presente que já ganhei. No dia 18 de julho era aniversário dele e ele nos chamou para ir no aniversário dele e depois nos foi dada uma semana de convivência, No dia 16 de agosto teve audiência no Fórum, que nos deu a guarda de seis meses. Ela foi renovada por mais três meses. E agora neste mês- exatos nove meses- deve sair a adoção definitiva”, comemora.
Ainda de acordo com o Cláudia houve quem questionasse o fato de adotar um adolescente. “Filho não tem idade para uma mãe ou para um pai. As pessoas devem olhar com olhos diferente e deixar esse amor fluir. Falaram ‘você tem noção de que ele tem 15 anos e logo estará com 18’. Mas uma mãe tem que ter a noção de que cria o filho para o mundo e ele vai bater asas. Mas eu sempre estarei aqui quando ele precisar”, disse.
Otávio é um rapaz tímido com quem não conhece e de poucas palavras, mas garante “Eu sinto que ela é minha mãe”.
Para Cláudia, é difícil encontrar palavras para este sentimento. “Ele não foi gerado no útero, mas foi gerado no coração. Todo filho tem que ser gerado no coração porque senão ele não tem o vínculo. Vai fazer nove meses que Otávio veio para nossa casa, mas parece que ele sempre esteve conosco. Otávio nos escolheu.”
Fonte: Portal da Cidade Guaxupé