Quizambu tem uma história cercada de silenciosos mistérios surgidos aos pés do mulungu, nas terras de meu bisavô, às margens do Rio da Roncaria, onde Iaras banhavam-se à sombra do ingá, quando o lugar ainda se chamava Monte Alegre.
Há um tempo medido pela longitude das sombras humanas projetadas sob sol escaldante, quando os meios de transporte eram os equinos e muares ou feitos por meio de carros puxados por mulas, bois, burros e jegues.
Há histórias mais recuadas, corroídas pela erosãodo passar do tempo, contadas pela oralidade. Trago aqui parte da história de Quizambu, reconstituída por meio de pesquisas pessoais, causos, lembranças minhas e outras por mim coletadas, juntadas a muita imaginação que se equilibram numa linha tênue.
Vale lembrar que são cenas fragmentárias de um quebra-cabeça incompleto. Olho para o Quizambu e vejo espectros de um passado recente, como se fotografias distintas pelo tempo e sua patina, ora amarelada, ora sépia e amarronzada, situadas no antigamente cheio de segredos sugados para o ventre do passado e os recantos de memórias-mortas.
Fatos sobre a enigmática origem se reduzem a documentos ausentes, que noutros tempos perderam-se como a intricada malha decorativa derivada dos pisos do Quizambu hall da casa de meu tio avô, o Velho Dó.
Como antiga escrita indecifrável ao arqueólogo se faz o significado da palavra Quizambu, evanescida na
obscuridade. No entanto, sabe-se que daquele tempo os únicos escritos são velhas escrituras de propriedades e
cadernos de contas.
A real história de Quizambu se desdobra no decorrer do tempo em enigma, mito e lenda. Uma história plena de continuidades e interrogações. Cheia de lacunas e imprevisibilidade.
Ed Carlos