Um dia desses estava refletindo sobre qual tema iria escrever em meu próximo artigo, o momento não estava propício, a vida de escritora é assim mesmo tem dessas coisas, é preciso aguardar a inspiração chegar, estar completamente focada, sentada e pronta para seguir adiante, desconectando-se por alguns momentos da internet. Comecei a anotar algumas ideias no papel e deixei que fluíssem naturalmente, já que o artista que habita em mim depende desses momentos mágicos para essa inteireza de ser, escrevendo com delicadeza o que precisa ser expresso. Você não imagina as horas, dias, semanas e até meses necessários e podem parecer longos. Mais às vezes, o tempo se torna prazeroso, quase como um bálsamo para as minhas células, como a escritora Anne Lamott costuma dizer: escrever trata-se, ao mesmo tempo, de trabalho e diversão.
É desafiante, porém no final tudo dá certo, e é nesse momento que a frase em latim se encaixa perfeitamente: ” Mens sana in corpore sano” (mente sã em corpo são). Talvez você esteja se interrogando sobre a relação disso com o tema “juntando os pedaços”, mas tenha calma. Acho importante fazer essa narrativa e mostrar que nós escritores, além de artistas, somos seres humanos que precisam de tempo para canalizar nossas inspirações palavra por palavra.
Mas, por incrível que pareça naquele dia eu chamei um táxi para ir a um determinado lugar, e algo me chamou atenção, (É curioso como, ao estarmos em sintonia com o universo, somos prontamente recompensados com os sinais que buscamos). O motorista estava escutando uma música na rádio, que me agradou, mesmo sem saber quem era dona daquela voz, memorizei a letra para, ao voltar para casa, anotá-la e pesquisar mais tarde. Foi a partir desse momento que percebi que o sinal tinha chegado e compreendi que a mensagem daquela letra indicava o que eu deveria escrever. Dizia mais ou menos assim: Juntando os pedaços, vais ficar de pé, lutando e usando sempre a sua fé, vai vencer obstáculos, caminhar sobre o mar, e se preciso for, vai esperar, sem recuar, sem temer, vai vencer.
Na cultura japonesa, existe uma técnica chamada Kintsugi, que deriva do japonês (kin = ouro | tsugi = emenda), que significa “emendar com ouro”. Essa técnica consiste em reparar cerâmicas e porcelanas quebradas utilizando cola misturada a pó de ouro, prata ou platina. Será que um objeto quebrado não tem mais valor? Não devemos simplesmente descartar as situações negativas em nossas vidas. Enxergar as cicatrizes como uma fonte de fortaleza é essencial. Conforme a filosofia do kintsugi, as pessoas devem dar valor aos momentos que os quebraram. Isso porque essas situações constroem novas versões de si mesmo, deixando marcas que podem ser lindas, se forem tratadas com cuidado e carinho. Ao invés de esconder as marcas do nosso sofrimento, devemos ressignificá-las elas serão as mesmas imperfeições que serão valorizadas e evidenciadas.
Um exemplo marcante são as dores e tragédias vivenciadas por famílias que tiveram suas residências arrastadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Em meio a essa situação devastadora, as pessoas enfrentaram a perda de seus entes queridos e amigos, deixando-as sem saber de onde tirar forças para seguir em frente. Como Juntar os pedaços? Enquanto ponderava sobre o assunto, fui convidada por uma colega, também escritora, para atender on line e auxiliar as pessoas em busca de terapeutas (além de ser escritora, sou terapeuta e atendo no consultório) com intuito de ajudá-los a superar os traumas que aparentemente parece intermináveis devido aos problemas que estão enfrentando no Rio Grande do Sul. Nessas horas é algo que me fez lembra do criador da teoria da “resiliência (estudo que ele fez sobre trauma nas pessoas). Afinal, todos os nossos sentimentos são importantes e merecem respeito.
A resiliência foi o verso da música do cantor Fred Mercury “The show must go on” um brado desafiador diante dos obstáculos, no qual Mercury afirmou que, mesmo com sua dor interna persistiria em sua performance com um sorriso no rosto. A canção se transforma em um emblema de resistência e conquista, em que a arte e a determinação em viver prevalecem sobre a fragilidade da natureza humana.
Acreditar que as coisas não acontecem “por acaso”, posso lhe afirmar que acredito sim. Às vezes não conseguimos compreender a razão por trás dos acontecimentos. Se você crê em Deus e possui uma fé inabalável, considero isso o caminho correto, mas, se você não acredita, tudo bem, nessas horas precisamos de uma ajudinha extra para saber encontrar as respostas, e os elementos que trarão novos rumos para nossas vidas.
A vida pode ser desafiadora em alguns momentos, exigindo coragem para superar adversidades e se fortalecer. Lidar com os pedaços quebrados e manter-se firme nem sempre é tão simples, pois tendemos a esconder nossas dores e nos tornar vulneráveis diante de diversas situações. Alguns indivíduos mascaram suas emoções negativas, tentando evitar revelar o que realmente estão sentindo, chegando até mesmo a mentir e omitir para tentar aliviar o desconforto. O sofrimento é uma parte natural da vida. O amanhã traz consigo novas oportunidades e a luz do sol sempre retorna a brilhar!
Por fim, deixo meu poema como um abraço de amor fortalecedor, os pedaços juntados e a cura.
Abraços,
Que aconchegam e conectam,
Apertados, alados,
Prendendo, em forma de ninho,
Abraço que salva-vidas,
Eternos, de despedida,
Trazendo lembranças e histórias,
Desajeitados, desalinhados,
Remontando cacos quebrados,
Invisíveis e desconhecidos,
Derramando lágrimas de compaixão,
Um elo revitalizador,
Almas que se encontram nesse abraço,
Num gesto enternecedor.
Moni Praddo
Jornalista, escritora, colunista.
Instagram: @monipraddo
Moni Praddo é baiana, jornalista, escritora e colunista, atuando como curadora de arte e ativista literária. Escreve com inspirações ligadas à espiritualidade e à natureza, buscando transformar relações e promover mudanças. Formada em Musicoterapia, com mais de 26 anos de experiência, também é colunista de várias publicações e participa de programas de rádio abordando temas como bem-estar e autoconhecimento.